Introdução histórica

 

"Para falarmos dos antecedentes da História de Álvaro, basta-nos porém um mergulho no tempo bem mais superficial, pelo que irei deter fundamentalmente com os factos decorrentes do contacto na Península Ibérica, com as grandes civilizações.

O contacto das duas primeiras grandes civilizações – grega e fenícia – com a Península Ibérica fez-se primeiramente pelo litoral, tendo estas penetrando profundamente ao longo dos rios Guadalquivir, Guadiana e Tejo. Vinham na busca do ouro, da prata, do cobre e do estanho. As feitorias fenícias eram, por exemplo, povoações activas que deram origem ás cidades do Porto, Lisboa e de Alcácer do Sal.

A chegada destes colonizadores orientais é simultânea aproximadamente da vinda dos Celtas, que entraram na Península Ibérica pelos colos dos Pirinéus. Estes movimentos agitaram e provocaram enormes lutas com as populações peninsulares já existentes. Esta situação de violência contribuiu para que os vestígios dos fenícios e dos gregos se registem apenas na orla costeira. Quanto a datas, sabe-se com precisão que a fundação de Cadiz, verificada igualmente nessa ocasião, se deu por volta do ano 1100 a.C.

Quanto ao interior da Península Ibérica, os historiadores referem, todavia, que as cerca de três dezenas de nativos de rudes costumes denominados por Lusitanos, que habitavam nas serranias entre os rios Douro e Tejo, que se banhavam nas aguas frias do Zêzere e que resistiram durante muito tempo aos Romanos teriam sido, na verdade, na Zona do Pinhal os antepassados mais chegados do povo português.

Quer pela construção de vias de comunicação, quer pela divulgação das culturas da vinha e da oliveira, os testemunhos deixados pelos Romanos na região são notórios, naquele vale do Zêzere exploraram o ouro.

Anota-se que as primeiras tropas Romanas entraram na península, no ano de 218 a.C., por exigências estratégicas da segunda guerra entre Roma e Cartago. Era na Península Ibérica que os cartaginenses recrutavam os homens para as fileiras que atiravam contra Roma.

Concluída a destruição de Cartago, os romanos conheciam os recursos peninsulares e continuaram aqui para os explorar.

Durante os séculos II e III deu-se na península um facto que teria as mais profundas consequências sobre os aspectos sócio-cultural e politico: a introdução do Cristianismo. Com o imperador Constantino, em 313, os cristãos passam a ter liberdade de culto e as igrejas saíram da clandestinidade e desenvolveram-se rapidamente. As cidades de Braga, Mérida, Tarragona, Sevilha e Cartagena, que se desempenhavam já as funções d capitais de Província, respectivamente, da Lusitânia, da Galécia, Terraconense, da Bética e Cartaginese passam, igualmente, a assumir o papel de Sés metropolitanas, presididas por um Bispo, enquadrado deste modo as comunidades de crentes.

Dão-se, entretanto, anos anos 411 e 416 as invasões barbaras dos suevos e dos visigodos, mas estes povos não deixaram vestígios na área em referência ao vale do Zêzere.

O mesmo já não acontece, porem com os mouros em 711. Um exército formado por berbéres atravessou o estreito de Gibraltar e iniciou a conquista da Península Ibérica. Levou de rompante toda a oposição, após a primeira vitória sobre os visigodos na Batalha de Guadalete, chegando mesmo a atravessar os Pirinéus

Decorria, então, cem anos sobre a data em que Moamet iniciara a sua pregação. Na península a ocupação foi quase total, a excepção das Astúrias, onde um grupo de cristãos se refugiou e ai organizou a resistência. Porto e Braga são reconquistados em 868, Coimbra em 1064, Lisboa em 1147, contudo, os serracenos permanecem em Faro, Sevilha e Córdoba até meados do século XII e em Granada até aos finais do século XV. Pode-se dizer, deste modo, que a presença dos mouros na península atinge perto dos oito séculos.

As condições de trabalho em propriedades isoladas não estimulam, no entanto, a instalação dos lavradores muçulmanos. Assim, os habitantes da chamada Beira Serra, mantiveram-se sempre, na posse das terras e conservaram-se fieis ao cristianismo, embora que para isso fosse necessário pagar pesada tributação aos árabes ou viver de forma dispersa pelas faldas de Alvéolos, do Açor ou da Lousã.

O inicio do povoamento de Álvaro verificou-se, porem apenas, com o esforço de Reconquista dos nosso primeiros monarcas, logo após as invasões árabes designadas por Almóadas, ocorridas entre 1170 e 1184, mais precisamente com a "resposta" aos ataques do forte exército conduzido pela califa Iacube (1190 e 1191), que tiveram como objectivo tomar Coimbra de assalto, pondo toda a região do Tejo a ferro e fogo.

A conjuntura social registava, na altura, um clero rico e politicamente poderoso, uma nobreza proprietária e militar e, por fim, um povo governado pela Igreja. Apesar de intenção religiosa, o esforço da Reconquista imprimida pelos reis D. Afonso Henriques e D. Sancho I traduziu-se, efectivamente, numa serie de cometimentos militares de finalidade essencialmente política.

Recordamos, a propósito, os antecedentes mais próximos: quando em 1140 D. Afonso Henriques se assumiu como rei, a fronteira do Reino passava a sul de Coimbra, pelos píncaros da Lousã e esbatia-se na campina beirã. As terras de Álvaro, como toda a Zona do Pinhal, eram por assim dizer "zona neutra". Não eram dominadas pelos mouros, nem completamente controladas pelos cristãos. Na linha de combate, o Castelo de Leiria constituía o posto mais avançado.

A incursão do califa Iacube, que pelos dotes mereceu o título de Novo Almançor, visava surpreender os cristão perante uma força militar e que não podiam resistir. Uma parte do exército árabe cercou Silves e um outro corpo, comando pelo próprio califa Iacube, penetrou no Alentejo, arrasou uma parte de Évora, apoderou-se de Torres Novas e cercou Tomar. O objectivo final, seria – como já se disse – a tomada de Coimbra. Com efeito, D. Sancho I fixou-se em Santarém, para guarnecer essa importante defesa do Tejo, mas teve que aguardar os acontecimentos, pois os reforços só lhe podiam vir de Lisboa.

Segundo Huici de Miranda: "Iacube teve então á sua mercê o destino de Portugal, mas por falta de meios para prosseguir a guerra ou por razões de climatéricas não sobe aproveitar o ensejo" . A este propósito, no volume V dos Anais da Academia Portuguesa de História refere-se, também, em concreto: "a desinteria que começou a dizimar os soldados árabes e a carência de cereais, pois a ultima colheita já fora recolhida nos castelos, justificam o fracasso da tentativa"."

Fonte: "Álvaro, Oito séculos de história" de José Marçal

 
 

 Povoamento

 

"O povoamento de Álvaro surge, precisamente aquando de decisão do rei D. Sancho I, em 1194, de fixar moradores em novos locais estratégicos, de fortalecer com a concessão de forais as povoações já existentes e, ainda, de estimular o surto económico e agrícola, num espaço nacional que se estendia, na altura, entre o rio Minho e uma linha transversal entre Monsanto, na Beira Baixa, e Almada / Sesimbra (Alpedrinha, São Vicente da Beira, Tomar, Abrantes, Coruche e Palmela).

Nesse mesmo ano, D. Sancho I reforçou as posições dos templários e atribuíu aos Hospitalários o Castelo de Guindistesta, que depois se chamaria Belver.

Embora, as terras de Álvaro não estejam explicitamente mencionadas, foram abrangidas na doação de D. Sancho I em 13 de Janeiro de 1194 à rodem de São João Batista do Hospital, que alias lhes reconheceu interesse pela atracção e desenvolvimento que o curso fluvial do Zêzere posteriormente intensificou.

Segundo Frei Lucas de Santa Catarina, que leccionou em São Domingos de Benfica, no inicio so século XVIII, no seu livro de "Memórias" (da Ordem do Hospital, de Malta ou do Crato), " um certo cavaleiro fez casa no castelo do cimo da colina em que se encontra a localidade, quando da expulsão dos mouros, que circundavam a região". O citado autor acrescentou ainda "depois destes definitivamente afastados teria deixado os seus haveres a um criado de nomeÁlvaro Peres, incumbindo-o de povoar e defender o sítio".

Os arqueiros de Álvaro participam já, em 1247, em local ermo junto na Ribeira de Tomalha, nas Imediações da Sertã, numa batalha conduzida pelo rei D. Afonso III, "O Bolonhês", irmão do próprio rei D. Sancho II, na altura, já desacreditado pelo Papa Inocêncio IV, deposto exilado em Toledo.

O rei D. Afonso III conduziu ele próprio esta batalha contra o rei de Castela que a título de ser cunhado de D. Sancho II pretendia apoderar-se da coroa portuguesa. Pouco se sabe de concreto sobre esta batalha, para além do rei de Castela ter agido em defesa do nosso próprio rei D. Sancho II, de nessa altura se ter sobressaído D. João Pires Anaia entre os demais de quase duzentos cavaleiros em presença das Ordens Militares e, ainda, de a esse sitio – como recordação da vitória – o soberano ter passado a designa-mo por Várzea dos Cavaleiros.

Acompanhava na altura o rei um ilustre cavaleiro, D. Fernão de Mendonça, descendente dos senhores de Biscaia, cujo irmão Pedro Dias de Mendonça se fixaria, posteriormente, em Álvaro."

Fonte"Álvaro, Oito séculos de história" de José Marçal

 
 

 Lutas Liberais

 

"Na zona do Pinhal durante as Lutas Liberais, a vila de Álvaro foi a que mais liberal se manifestou, não obstante oficialmente, em 24 de Janeiro de 1828, o elenco da edilidade e o Pároco de Álvaro se congratulassem com as melhoras do rei D. Miguel. Na opinião do então juiz de Pampilhosa da Serra a vila de Álvaro era"assento firme de cruel despotismo liberal e foco de desmoralização".

A 5 de Junho daquele ano, o Regimento de Milícias da Lousã afecto aos absolutistas teve de fugir para Tomar por ter sido acossado por 22 praças de Cavalaria 11 e 378 soldados de Caçadores, mandados pelos liberais de Coimbra, dia em que também na Sertã eram pronunciados, entre outros, os seguintes indivíduos de Álvaro: José Mendonça David, capitão aposentado de Cavalaria 12 que foi reunir-se aos revoltosos em Coimbra; João Mendonça irmão do primeiro e, na altura, estudante universitário e que aliciou para a revolta e para a Maçonaria muitos estudantes seus colegas; José Mendonça, parente dos primeiros e alcaide (oficial de Justiça com funções de policiamento) em Viseu; e António Barata Salgueiro.

O único intelectual da época, natural de Álvaro, que defendeu as ideias absolutistas foi Fr. Tomaz da Divina Providência, frade capucho no convento da Sertã.

Ao tempo da rainha D. Maria II, com a reforma de 1836 de Passos Manuel desintegra-se o concelho de Álvaro. A vila enquadra-se no de Oleiros, como freguesia, par de Pedrógão Pequeno, as freguesias de Orvalho e de Vilar Barroco que pertenciam ao do Fundão e, ainda, da localidade de Póvoas (Sarzedas), embora esta só em 1844.

No reinado de D. Luís, mais precisamente em 1868, Álvaro integrou-se no concelho da Sertã e, no ano seguinte, por rectificação ao critério desajustado dessa nova reforma reavivou-se o concelho de Oleiros, tal como actualmente se constitui, integrando-se nele a freguesia de Álvaro.

O Pelourinho de Álvaro foi mandado destruir, em 1880, pela Câmara Municipal de Oleiros, na ocasião presidida pelo vice-presidente Lino Miguel Lopes, tendo os materiais provenientes dessa demolição sido vendidos em hasta pública. Foi arrematante António Domingos da Gama, da Longra, por 320 réis.

Este facto foi apreciado com enorme justeza pelo Bispo de Angra, D. João Maria Pereira de Amaral e Pimentel, aquando escreveu nas suas "Memórias da vila de Oleiros e do seu concelho" o seguinte: "teve a vila de Álvaro a infelicidade de perder a sua autonomia e de ser o seu antigo concelho incorporado no de Oleiros; mas restava-lhe ainda na praça o seu antigo pelourinho, atestando a todos que a viam, que aquela terra, tinha os foros de vila, e que fora noutro tempo cabeça de um concelho independente".

D. João de Amaral Pimentel prosseguiu ainda: "não permitiu, porém, a civilização moderna, que Álvaro conservasse por mais tempo esse padrão de suas antigas glórias; o pelourinho foi votado ao extermínio, e vendido no mesmo dia, por vilíssimo preço, como coisa desonrosa!".

E concluiu: "daqui por diante quem entrar naquela terra não verá mais que uma aldeia; e os habitantes dela, amantes da sua pátria, terão que contar aos forasteiros a histórias da sua decadência, e que restando-lhes apenas o pelourinho, como memória de suas antigas glórias, desse mesmo forma privados"."

Fonte: "Álvaro, Oito séculos de história" de José Marçal

 
 

 Estado Novo e Democracia

 

"Coloca-se, finalmente, uma questão: o que é que mudou ou mais se explicitou em Portugal e especificamente em Álvaro, após a implantação do Estado Novo e, ainda, ao longos destes últimos vintes anos em que se se sucederam ao Regime quase de cinco décadas de Salazar / Caetano?

Quanto ao período do Regime de Salazar / Caetano, construiu-se um equilíbrio económico ate ao eclodir, no início da década de sessenta, da Guerra com os movimentos de libertação em algumas das antigas colónias – Guiné, Angola e Moçambique. Não permitiu o sistema político então em Portugal ao longo de treze anos desta Guerra uma saída para a paz nas ex-colónias. Este facto, bem como o clima de afastamento dos portugueses em relação às responsabilidades políticas levam o País à revolução de Abril.

O programa do Movimento das Forças Armadas sublinhava que logo eleitos pela Nação a Assembleia Legislativa e o novo Presidente da República, seria dissolvida a Junta de Salvação Nacional e a acção das Forças Armadas seria Restringida à missão específica da defesa da soberania.

Assim, o fim do período de transição e de excepção quanto ao cariz militar da tutela do Poder começou, de acordo com a Constituição de 2 de Abril de 1976, aliás, logo que foi eleito pela primeira vez para Presidente da República o general António Ramalho Eanes e os novos deputados para a Assembleia.

A construção da democracia e a integração na União europeia comandadas pelas modificações, entretanto, ocorridas na sociedade portuguesa, bem como a melhoria significativa das acessibilidades a toda a Zona do Pinhal com a concretização de inúmeros projectos suportados com financiamentos comunitários respondem relativamente ao outro período.

O esforço de desenvolvimento local e a satisfação de um maior número de necessidades básicas, quer através da participação das populações, quer por uma maior capacidade do Poder Autárquico, como prestador de serviços, respondem ao último aspecto da questão.

Na década de cinquenta, a anteceder a construção e o enchimento da barragem, do Cabril e por mero processo administrativo delimitou-se de novo a freguesia de Álvaro, perdendo esta na altura uma área considerável da margem da direita do rio Zêzere e que abrangia as povoações de Lomba do Barco, de Maria Gomes e da Travessa, hoje integradas na freguesia e concelho da Pampilhosa da Serra.

Construiu-se em 30 de Março de 1968 a Liga Regional "Os Unidos da Freguesia de Álvaro", instituição declarada pelo Governo de utilidade pública administrativa, que tem contribuído para inúmeros melhoramentos na autarquia. Foram presidentes da Direcção: António Antunes Correia, Américo Pereira de Almeida e José Marçal Matos Ferreira.

Na Junta de Freguesia de Álvaro, o nome e a acção de António Augusto Alves ficaram associados ao poder político dos sucessivos Governos de Salazar, bem como à ideia de anestesia cívica, à apatia cultural, ao adiamento constante de melhoramentos ou de benfeitorias necessárias e ainda ao persistente atraso económico."

Fonte: "Álvaro, Oito séculos de história" de José Marçal

 

Brasão

 

Brasão: escudo de ouro, folha de serra de vermelho, realçada de negro entre dois ramos de oliveira verde, frutados de negro, tudo posto em pala e alinhado em faixa; em chefe e em campanha, uma faixeta ondada de azul, carregada de duas burelas ondadas de prata. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco, com a legenda a negro: “Álvaro”.

Bandeira: esquartelada de verde e amarelo. Cordão e borlas de ouro e verde. Haste e lança de ouro.

Selo: nos termos da Lei, com a legenda: “Junta de Freguesia de Álvaro — Oleiros”.